domingo, 27 de abril de 2008

Resoluções de sabor.

Passar por dificuldades desperta na gente uma vontade de ser melhor e pedir por uma chance de fazer diferente, um grande clima de resoluções de vida, como as do fim do ano.

Depois do que passei e ainda estou vivendo, foi inevitável a confecção de uma série de listinhas de resoluções. No hospital temos bastante tempo para pensar nas coisas, fiz listinhas para tudo: vida pessoal, saúde, trabalho, amigos, amor e é claro que também para a comida.

Pensei em uma série de itens que preciso saborear assim que puder, quando a dieta mole não for mais um assunto freqüente nesse blog e na minha vida.

Dividi as minhas resoluções do sabor em três áreas.

Começo pelos eventos gastronômicos da cidade (São Paulo) que eu sempre quis conferir mas por motivos diversos e que não consigo lembrar, nunca fui. Lacunas vergonhosas para uma paulistana que leva comida tão a sério como eu. Listei apenas três, não queremos abraçar o mundo de uma só vez, não é?

Festa da Nossa Sra. Achiropita. Sabor de fé, de ação social e de comida farta. Festas tradicionais como essa me fascinam. Todo ano assisto no noticiário aquelas pessoas sorrindo, cantando e passando com aqueles pratos de papel alumínio cheios de macarrão e, todo ano, tenho vontade de me juntar a eles. Uma celebração muito linda regada a carboidratos, muito especial. No site (http://www.achiropita.org.br/) encontrei um dado que não conhecia, uma das atrações especiais da festa é o queijo provolone com dois metros de comprimento e mais ou menos 100 quilos, fiquei emocionada.

Feirinha da Liberdade. Preciiiisooo. Esse grande buffet a céu aberto deve ser mais do que divertido. Passear por uma rua e a cada poucos passos poder saborear Yakissobas, tempuras, guiozas, sushis e outras delícias, para mim é um evento imperdível, preciiiisooo. Confesso que o que me atrai na feirinha são os salgados, não sou uma apreciadora dos doces japoneses.

Mercadão. Esse deixei por último por que é realmente uma vergonha. Mas com muita coragem assumo e deixo registrado: eu nunca fui. O que me desperta nesse evento não é somente o sanduíche de mortadela gigante, é tudo o que esse ícone da cidade oferece. Quero provar o Mercadão além dos seus clichês, todas as suas delícias, os petiscos, as frutas, os queeeeeijos, quero deixar que ele me surpreenda.

A segunda resolução da minha lista foi inspirada no livro que estou lendo, O homem que comeu de tudo, escrito por Jeffrey Steingarten (genial!). Ele começa a sua “aventura” enfrentando suas repulsas no mundo da culinária mundial. Para isso, ele se apega a uma teoria comprovada de que, após provar 10 vezes um prato (ele conta com detalhes isso e é claro que eu não contarei aqui), você é capaz de acabar gostando dele. E foi isso que ele fez, foram poucos os casos que não conseguiu reverter a situação.

Isso é o que eu chamo de resolução: transpor suas barreiras.

Para começar, fiz uma lista grande das coisas que não gosto de comer. Coisas que já tentei e não consegui, mas talvez nunca tenha tentado dez vezes. Para essa tarefa listei apenas três das minhas maiores aversões culinárias:

Bacalhau. Eu sou filha de uma portuguesa que cozinha muito e nego minhas raízes por não gostar de Bacalhau. É uma vergonha (outra). Na minha casa esse é um prato quase dia-a-dia, conheço pessoas que adorariam morar aqui somente por este fato. Lembro que quando íamos para a casa na praia, o prato rápido que minha mãe fazia era bacalhau cozido com legumes e banhado em muito azeite e, para Heloisa (me!), um sanduíche ou uma lasanha da Sadia. Affeeee. Preciso enfrentar essa minha porção filha desnaturada e aproveitar o que a vida me proporcionou, Bacalhau à moda portuguesa, de verdade.

Mariscos e seus amigos. Esse item também consta na lista de repulsas do livro, nela Jeffrey narra com genialidade seu medo pelos cantos obscuros que existem além daquela carne, dentro da concha. Ao ler esse trecho conectamos! Ele falou comigo (profundo isso?). Me fez pensar sobre essa minha repulsa e questionar se ela existe devido aos cantos escondidos e misteriosos da conchinha. Seria isso? Seria a sua aparência de cérebro de um pequeno ser monstruoso do mar? Ou seria sua textura duvidosa? Motivos e teorias de lado, preciso ao menos tentar perder esse medo, esses amiguinhos aparecem em diversos pratos que aprecio. Mas, enquanto o dia de ticar a lista não chega, conchinha para mim só a de abraço na hora de dormir.

Coelho. Esse é um medo de infância. Minha mãe tinha um tio que criava coelhos no quintal da casa dele. Eu adorava brincar com eles. Além de querer levá-los para a casa, ainda era uma fase que eu associava aquelas coisas fofas com uma outra mais fofa ainda, a do coelho que me trazia chocolate embrulhado em papel de presente. Uma relação de amor tinha sido estabelecida ali. Certo dia, cheguei na casa do tio e não encontrei mais os coelhos que vi crescer, descobri que eles tinham virado o almoço, detalhe: descobri isso depois de comer. Um filme de horror para uma criança cheia de amor. Desde então, coelho nunca mais, mas agora estou disposta a tentar provar esse prato novamente.

Por último nas minhas resoluções do sabor: mais lacunas. Coisas que adoraria provar mas nunca fiz por medo e/ou por acabar optando por outros pratos do cardápio no momento de pedir, escolhas mais seguras. Novamente listei apenas três:

Cordeiro. Você já passeou pelo shopping ou folheou a Vejinha e se viu babando naquela foto linda de anúncio de uma costela de cordeiro? Eu já, várias vezes. Aquilo me tira do sério. Já me disseram que não é tão saborosa quanto parece, mas eu preciso provar aquilo. Talvez minha fantasia tenha um sabor bem mais delicioso do que a realidade, mas é um risco a correr.

Vieiras. Jamie Oliver me catequizou e eu sairei em busca da descoberta das vieiras. Um mundo aparentemente bem mais delicioso. Elas são lindas e brilhantes e é o único caso que eu não ligo de ter saído de uma conchinha, não até eu prová-las.

Perdiz. Chique, perdiz. Tenho certeza que o que me manteve longe delas foi a aparência na hora de servir. Muitos amigos me dizem que é uma delícia, mas toda vez que vou provar acabo amarelando. Eu preciso preencher essa lacuna que chega a afetar minha vida social. Esse item não me provoca tanta vontade quanto os dois primeiros mas age no meu medo de coisas de aparências que não me agradam mas que podem surpreender no sabor.

Depois de todas essas lacunas e repulsas, concluo que eu não sou chique como achava que era. Chega de revelações por hoje.

Apesar disso, as minhas resoluções/revelações me deixaram animada e com força para uma recuperação mais rápida. Mal posso esperar para andar por aí ticando minhas listinhas.

Um comentário:

Sheyna A. A. disse...

Hello!
Veja só como são as coisas nesta vida... sexta-feira mesmo, comentando com um amigo, acabei falando de vc (entre outras pessoas), mas falando de pessoas que conheci na facul, gostava, mas perdi contato... pois eu até consegui manter um certo contato, amizade, com algumas pessoas, mas é claro que, como vc mesma usou, não dá pra abraçar o mundo. Mas o que achei mais legal foi abrir meu orkut e ter aquele recadinho seu!
Agora, vi seu pedido lá no MSN, vi que tem um blog (o que eu não sabia) e eu tb tenho, tive um... na verdade parei pois precisava colocar a cabeça no lugar, o que na verdade aiiiinda ocorre em processo, espero eu, gradativo! hahaha Mas, pelo que li aqui, o meu caso ainda foi mais no âmbito psicológico, mas o que houve mulher? Não li tudo ainda, só uma parte, mas vi que está nesse processo de valorizar ou, criar o esforço para enxergar coisas que até um tempinho talvez não o fizesse... se for isso mesmo, ou mais ou menos isso, estamos em momentos 'similares', pois eu estou me forçando a fazer coisas que não fazia, não faria, a experimentar, a buscar... e foi nessa que você viu meu contato lá, no Domênico... acho que temos bastante a conversar mulher... se tiver interesse em bater um papo, iria adorar...e não profissionalmente falando, mas pessoalmente... pois tenho boas lembranças dos tempos que ficávamos eu, vc e a Clau, nas escadas do 19 ou por ali, papeando, papeando, principalmente sobre as travessuras de Hello! kkk :P
Beijos, Shey